Costumo iniciar artigos sobre segurança ocupacional lembrando de uma cena simples: uma xícara de café, uma conversa informal entre colegas de trabalho, e, de repente, um deles revela que quase não dormiu, estressado com o ambiente no escritório. Em anos de atuação em Saúde e Segurança do Trabalho, já vi essa conversa acontecer dezenas de vezes. O incômodo, às vezes invisível, é uma sombra silenciosa: os riscos psicossociais.
No contexto da Norma Regulamentadora 1, que centraliza o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), a pesquisa para NR-1 tornou-se ainda mais relevante com as últimas revisões. O debate sobre saúde mental nas empresas saiu do campo das boas intenções e bateu na porta da obrigatoriedade legal.
Mas, afinal, como é a avaliação psicossocial na rotina das empresas? Quais etapas não podem faltar? O que mudou recentemente? É sobre isso que vou tratar neste guia prático, trazendo aprendizados, desafios e exemplos observados nos bastidores do Portal NR1.
Prevenir riscos psicossociais é cuidar da base de qualquer ambiente de trabalho saudável.
O conceito de pesquisa para NR-1 voltada a riscos psicossociais
Antes de detalhar procedimentos e prazos, gosto de clarear o conceito. A pesquisa para NR-1, especialmente voltada aos riscos psicossociais, busca identificar, avaliar e controlar fatores do trabalho capazes de gerar impactos emocionais, sociais e mentais nos trabalhadores. Podem ser situações de pressão, assédio, jornadas excessivas, falta de apoio da liderança, pouca autonomia, entre outros. São riscos “ocultos” no cotidiano, mas que deixam marcas profundas.
Segundo pesquisa da Vidalink de 2024, 31% dos trabalhadores brasileiros ainda não adotam nenhuma medida para cuidar da própria saúde mental. Entre pessoas pretas e pardas, esse índice supera 36%. Esses dados demonstram porque a análise psicossocial é peça-chave para prevenir adoecimentos, ausências e situações de perigo invisíveis.
A avaliação psicossocial na NR-1 é o processo sistematizado de reconhecimento, análise e controle de fatores do trabalho que impactam a saúde mental e social do colaborador.
O Portal NR1, como central de conteúdo atualizado, acompanha diariamente os debates e mudanças legais que reforçam o papel do GRO na proteção integral do trabalhador, inclusive contra riscos psicossociais.

Contexto legal: saúde mental, GRO e as mudanças recentes
Pouca gente percebe, mas a NR-1 transformou silêncios em obrigações. Desde as alterações publicadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais não se restringe a riscos físicos, químicos ou ergonômicos. A pauta da saúde mental foi definitivamente incorporada às rotinas de SST.
A categoria de legislação no Portal NR1 reúne todos os detalhes dessas atualizações:
- Obrigatoriedade: Empresas de todos os portes devem, conforme NR-1, identificar, analisar e controlar riscos psicossociais nas suas atividades;
- Integração ao PGR: As avaliações e medidas preventivas devem estar documentadas e integradas ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR);
- Prazos e fiscalizações: Empresas tiveram períodos de adaptação, mas, desde 2022, estão sujeitas a fiscalização ativa, multas e interdições em caso de omissão;
- Envolvimento do trabalhador: Oitiva, consulta e participação dos empregados nos processos de identificação e de decisões sobre postura preventiva;
- Profissionais qualificados: Aplicação das metodologias deve ser feita por profissionais de SST capacitados;
A integração dos riscos psicossociais no PGR, prevista pela NR-1, dialoga com tendências mundiais. Dados da OMS reforçam: o Brasil é recordista global em transtornos de ansiedade; depressão e ansiedade são responsáveis pela perda de 12 bilhões de dias de trabalho anualmente, um prejuízo invisível, mas brutal.
Por que a avaliação psicossocial é tão necessária?
Em minha pesquisa para o Portal NR1, um ponto é inescapável: ignorar riscos psicossociais saiu caro para empresas e trabalhadores. Em 2024, mais de 440 mil afastamentos por problemas de saúde mental foram registrados no Brasil, representando um aumento de 67% em relação ao ano anterior.
Para muito além de cumprir obrigações legais, cuidar da saúde mental :
- Reduz índices de afastamentos, presenteísmo e rotatividade;
- Melhora o clima organizacional e as relações interpessoais;
- Previne casos de violência, assédio e outras situações críticas;
- Valoriza a marca empregadora e atrai novos talentos;
- Pode aumentar resultados, já que colaboradores saudáveis produzem melhor (como defendeu o evento do MTE e Dieese);
Sem prevenção psicossocial, o preço é sempre mais alto, seja pelo sofrimento ou pelos números.
Ainda segundo estudo da consultoria Gallup, 25% dos profissionais brasileiros relatam sentir tristeza diariamente, e 46% declaram estresse intenso todo dia. O risco está na rotina.
Passo a passo: como realizar uma avaliação psicossocial para a NR-1
Quando converso com profissionais de SST, percebo muita dúvida sobre por onde começar. Por isso, compartilho aqui o roteiro que costumo seguir, e que já ajudei a adaptar em diferentes realidades, do chão de fábrica a escritórios de tecnologia:
1. Preparação e planejamento
- Defina os objetivos e o escopo (toda a empresa? apenas setores de alto risco?);
- Monte uma equipe multidisciplinar (SST, RH, psicólogos, representantes dos trabalhadores);
- Garanta apoio da liderança e transparência sobre os motivos da avaliação;
2. Identificação dos fatores de risco psicossocial
- Converse com os trabalhadores nas equipes, coletando percepções e relatos;
- Observe rotinas, relações, níveis de exigências, jornadas, pressões e suporte;
- Mapeie indicadores (absenteísmo, turnover, casos de assédio, demandas por afastamento);

3. Escolha e aplicação das metodologias
Há diferentes instrumentos possíveis, como questionários validados, entrevistas individuais ou dinâmicas de grupo. O fundamental é respeitar o sigilo, o voluntariado e a ética. Os métodos mais frequentes incluem:
- Questionários padronizados (por exemplo, fatores de risco emocional, pressão no ritmo, apoio da chefia);
- Entrevistas em profundidade (explorar vivências específicas);
- Dinâmicas em grupo (favorecem participação e confiança);
4. Análise dos dados coletados
- Avalie padrões de respostas e relatos recorrentes;
- Cruze esses dados com o clima organizacional, índices de produtividade e saúde;
- Priorize os riscos com maior impacto potencial e frequência;
5. Planejamento das ações e integração ao PGR
A pesquisa para NR-1 não termina no diagnóstico.
- Elabore um plano de ação para cada risco identificado (prevenção, acompanhamento, mitigação);
- Defina prazos, responsáveis, metas e formas de acompanhamento das ações;
- Inclua tudo no PGR e revisite com frequência, adaptando conforme novos resultados;

6. Comunicação, devolutiva e acompanhamento
- Informe os trabalhadores sobre resultados e próximos passos;
- Abra canais éticos para dúvidas, sugestões e denúncias;
- Reavalie periodicamente (pelo menos a cada 12 meses ou em mudanças relevantes);
Avaliação psicossocial eficaz só existe quando o plano de ação sai do papel e chega ao dia a dia.
Práticas recomendadas para uma boa pesquisa psicossocial
A seguir, listei práticas que, ao longo da minha trajetória e por meio da curadoria do Portal NR1, percebi que fazem toda a diferença:
- Confidencialidade sempre: assegure que o anonimato e o sigilo são respeitados, fortalecendo a confiança;
- Participação ativa dos trabalhadores: o envolvimento realidades diferentes torna o diagnóstico mais fiel;
- Adaptabilidade: personalize metodologias de acordo com cada segmento/grupo;
- Registro detalhado: cada etapa (desde planejamento até ações) deve ser documentada, garantindo rastreabilidade;
- Medição periódica: revise o diagnóstico de tempos em tempos e após grandes mudanças;
Na seção de pesquisa do Portal NR1, compartilho cases e estudos que mostram como empresas brasileiras já estão inovando nas práticas para avaliação psicossocial, com resultados visíveis no ambiente de trabalho.
Exemplos de documentação válida para NR-1
Uma dúvida comum de quem recebe a missão de implementar o GRO: que documentos preciso ter para provar a pesquisa psicossocial?
- Plano de avaliação psicossocial (objetivo, responsáveis, cronograma, métodos);
- Atas de reuniões e entrevistas/eventos com trabalhadores;
- Relatórios de diagnóstico, com análise quantitativa e qualitativa;
- Registros de ações implementadas, prazos e responsáveis;
- Anexos de questionários utilizados e resultados apurados;
- Atualizações no PGR incluindo riscos psicossociais;
Esses documentos devem ser mantidos à disposição da fiscalização, digitalizados e com controle de versões. Recomendo incluir detalhamento sobre ética e proteção de dados, já que o sigilo é um dos pilares de uma avaliação psicossocial séria.

Desafios enfrentados pelas empresas na avaliação psicossocial
Já ouvi empresas alegando que riscos psicossociais são “subjetivos demais”. Em parte, concordo: é difícil mensurar sentimentos e vivências. Mas os desafios, quase sempre, residem em pontos bem identificáveis:
- Negação ou resistência da liderança: a cultura empresarial precisa reconhecer saúde mental como pauta central;
- Falta de qualificação dos avaliadores: aplicar questionários sem sensibilidade ou treino reduz muito a precisão dos resultados;
- Medo de exposição entre colaboradores: receio de represálias ou julgamentos ainda afastam respostas sinceras;
- Recursos limitados: tempo, tecnologia e orçamento restritos dificultam avaliações amplas;
- Dificuldade em consolidar ações: de pouco adianta um bom diagnóstico que não gera melhoria real;
No Portal NR1, tenho visto empresas que superam esses obstáculos investindo em comunicação transparente, capacitação de líderes, e usando ferramentas digitais seguras para coleta e análise de dados. É esse movimento que transforma a avaliação psicossocial em cuidado prático e constante.
Como alinhar a pesquisa psicossocial à legislação e boas práticas
Para garantir conformidade com a NR-1, enxergo como essenciais três vértices:
- Documentação e transparência: mantenha registros atualizados, completos e facilmente acessíveis em eventuais auditorias ou fiscalizações;
- Interdisciplinaridade: envolva profissionais de diferentes áreas, especialmente SST, RH e psicologia organizacional;
- Atualização constante: acompanhe as mudanças na legislação consultando fontes como o próprio buscador do Portal NR1 e o conteúdo sobre legislação atualizado;
- Benchmarking transparente: estude casos bem-sucedidos em diferentes segmentos de atuação. Recomendo explorar o post exemplo sobre boas práticas e o case de excelência em GRO para se inspirar.
Alinhar pesquisa psicossocial e legislação NR-1 é proteger tanto o trabalhador quanto o negócio.
Participação dos trabalhadores e o papel da liderança
Hoje, posso afirmar sem hesitação: uma pesquisa psicossocial eficiente depende de participação efetiva dos colaboradores. O PGR precisa ser construído de baixo para cima, ouvindo quem vive a rotina e reconhece as pressões invisíveis das tarefas. Líderes, por sua vez, devem estimular o diálogo, agir de forma exemplar e rapidamente corrigir desvios de conduta.
O protagonismo dos trabalhadores valoriza o diagnóstico psicossocial e potencializa a mudança.
Métodos como rodas de conversa, caixinhas de sugestões anônimas, balanços regulares sobre bem-estar e treinamentos conjuntos quebram resistências e trazem resultados reais para o clima interno.
Conclusão: do diagnóstico à mudança de cultura
Ao longo deste guia, procurei partilhar minha experiência e o olhar apurado criado ao longo do tempo no Portal NR1. O cenário é claro: não há mais espaço para deixar os riscos psicossociais fora do GRO, do PGR ou do cotidiano das organizações. A saúde mental saiu do rodapé da pauta e assumiu papel de protagonista.
Adotar uma pesquisa para a NR-1 bem estruturada não é só cumprir exigências legais: é prevenir afastamentos, cuidar da coletividade e criar ambientes de trabalho preparados para inovar, crescer e acolher.
Se você deseja ferramentas, atualizações e cases específicos sobre avaliação psicossocial, convido a conhecer melhor o projeto Portal NR1. Lá, a pesquisa para NR-1 ganha vida: conteúdos práticos, análises e notícias em tempo real apoiam empresas e profissionais a transformar o ambiente de trabalho, todos os dias.
A saúde mental é construída na prática. Faça parte dessa transformação com o Portal NR1.
Perguntas frequentes sobre avaliação psicossocial e pesquisa para NR-1
O que é a avaliação psicossocial na NR-1?
A avaliação psicossocial na NR-1 é o processo estruturado que identifica, analisa e gerencia fatores relacionados ao ambiente, às condições e à organização do trabalho que podem impactar a saúde mental e social dos trabalhadores. Ela inclui a coleta de dados sobre o clima organizacional, relações interpessoais, volume e ritmo de trabalho, mecanismos de apoio e possibilidades de sofrimento emocional. O principal objetivo é prevenir danos e criar soluções efetivas para um ambiente mais seguro e saudável.
Como fazer uma pesquisa para NR-1?
Uma pesquisa para NR-1, focada em riscos psicossociais, segue etapas como: planejamento (definir equipe e objetivos), identificação dos fatores de risco (conversa, observação, análise de indicadores), aplicação de métodos (questionários, entrevistas, dinâmicas), análise dos dados, desenvolvimento e aplicação de plano de ação, além da documentação e integração ao PGR. O acompanhamento contínuo e a participação dos trabalhadores são fundamentais para o sucesso do processo.
Quais profissionais podem aplicar a avaliação para NR-1?
Profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) com formação adequada, como psicólogos organizacionais, engenheiros e técnicos de segurança, além de médicos do trabalho, podem participar da aplicação das metodologias de avaliação psicossocial previstas pela NR-1. O ideal é que o time seja multidisciplinar, envolvendo também o RH e representantes dos trabalhadores para garantir visão ampla e plural.
A pesquisa psicossocial para NR-1 é obrigatória?
Sim, a avaliação psicossocial passou a ser uma exigência legal, especialmente após as atualizações recentes da norma. Toda empresa deve prever o gerenciamento dos riscos psicossociais, documentando as etapas, resultados e ações corretivas/preventivas. A ausência desse processo pode ser motivo de autuação, multa e, em casos graves, interdição.
Quanto custa a avaliação psicossocial para NR-1?
O investimento na avaliação psicossocial varia conforme o porte, complexidade da empresa, metodologias utilizadas e extensão da equipe envolvida. Pode ir desde a elaboração interna por equipes de SST capacitadas até a contratação de especialistas externos. Porém, diante do cenário de afastamentos e prejuízos envolvidos, estudos mostram que o valor investido é compensado por ambientes mais saudáveis, utilizando recursos próprios ou consultorias qualificadas.
